terça-feira, 5 de agosto de 2008

BAILARINAS DE PALMO E MEIO E OUTRAS BAILARINAS


1ª Apresentação da Escola de Danças Clássicas Albertina S. de Ganzo

"Dança Russa" - TAC - 20 de dezembro de 1952



por SÁLVIO DE OLIVEIRA


De quando em vez, nosso velho Teatro Alvaro de Carvalho toma ares de prima-dona aposentada e se veste para uma reentré de gala.
Iluminam-se-lhes os salões, dão-se-lhe novos retoques nos cenários envelhecidos e o público esquece as enormes deficiências da primeira casa de espetáculos da Capital catarinense.
Comovido, por certo, o velho casarão, nessas noites, livre da asfixia de tantos anos de inação e de cinema, passeará os olhos enormes pelos camarotes, pela platéia, relembrará as frisas e, até mesmo, as galerias, onde, outrora, outras gerações mais amantes da arte e mais distantes do futebol, aplaudiram Crara Woiss, "rainha da opereta", Jordanini, Leopoldo Froes, Chabi Pinheiro e nossa incomparável Margarida Lopes de Almeida. Lembrará, também, espetáculos como "A Flor da Roça", "seu Jeca quer casar", "A Ilha dos casos raros", "Ouro sôbre Azul", produtos cá da Ilha.
Comovido, juntará seus aplausos, de entusiasmo e gratidão, aos aplusos que coroam trabalhos de arte como o que acaba de apresentar a Florianópolis - D. ALBERTINA SAIKOWSKA DE GANZO.
A ilustre professora e coreógrafa, no seu dizer, pretendia oferecer "o despretencioso espetáculo de Ballet que vamos apresentar, nada mais é do que uma demonstração do que se pode coordenar no curto espaço de um ano, como a boa vontade, o capricho e a graça deste pequeno grupo de meninas e de moças que nele tomam parte". Foi, porém, muito mais alto, ultrapassou os limites impostos pela sua modestia, suplantou qualquer espectativa.
Vimos neste pequeno grupo, ao contrário do que afirma sua competente mestra, não só "meninas e moças que aprendem com o bailado clássico, a beleza de movimentos e a graça de caminhar tão admiradas na mulher", mas futuras bailarinas; bailarinas de palmo e meio, figurinhas d econtos de fadas, como Lucinha Aquino d'Avila, Alzirinha Ferreira, Lúcia Rupp, Vera Luz, Jaçanã Coelho, Teresinha Silva e outras bailarinas, encantadoras adolescentes, onde se destacam Ada Madalena Gonzaga, Maria Leônida Souza, Sônia Barbato, Pochi ganzo, eliana Cabral, Célia Brognoli e Lurdete Brina. E estamos certos, não haveria destaques se oportunidades iguais fôssem dadas a todas as alunas, de seis a dezessete anos, todas talentosas, como foi a revelação dos bailados em que participaram. "Dança Russa", com música de Tchaikowsky, foi o ponto alto das apresentações em conjunto. A coreografia de D. Albertina, o maravilhoso guarda-roupa e a atuação de todas as alunas, perto de sessenta figurantes, aliadas a perfeita execução da orquestra regida pelo Maestro Peluso, deixou-nos a agradável impressão de um verdadeiro espetáculo de "ballet", igual aos de 1948, uma das mais felizes do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
A orquestra, sob a regência do Maestro Peluso, em todos os números do programa, conduziu-se com rara felicidade, fazendo com que houvesse, sempre, perfeita coordenação entre a música e movimento. aqui, há a ressaltar a impressionante interpretação de ada Madalena, em "Boneca" e os bonitos desempenhos de Eliana Souza Cabral, em "Silhueta" e Pochi Ganzo, em "O Cisne", onde música e gesto apareceram na mais perfeita harmonia.
Mas, além disso, são tantas as boas qualidades nesta primeira apresentação da Escola de Danças Clássicas, que ao cronista é difícil dizer tudo, de uma só vez.
Não se poderá porém, deixar para mais tarde as referências ao luxuoso gurada roupa, dos mais custosos até hoje realizados em Florianópolis, por iniciativa particular. E chega o momento de fazermos nossa primeira restrição: a cor do cenário, cortinas de um vermelho escuro, reponsáveis pela a ausência de realce nas cores das vestes e maquiage das pequenas bailarinas. Perderam êstes, grande parte de sua beleza, o que não aconteceria, diz-nos a experiência, se fôsse usada uma rotunda azul, iluminada de baixo para cima. Aliás, o Jôgo de luzes também não foi dos mais felizes.Deixamos porém, tais deficiências e tudo o mais que se refira a equipagem teatral, a culpa da velha casa onde foi montado o espetáculo, por si só um verdairo milagre, pois nunca se viu tão bem arrumado, limpo e apresentável, como na noite de 20 corrente.
D. Albertina, a grande vitoriosa dessa memorável noite, e seus mais diretos auxiliares na enorme tarefa, devem ter aprendido a lição de se fazer teatro em Florianópolis é também reconstruir o prédio do teatro, não basta ser coreógrafo, cantor, músico ou ator.
Mas, a despeito de tôdas dificuldades, após dias e dias de trabalho árduo e de incansável tenacidade, D. ALBERTINA SAIKOWSKA DE GANZO, pode apresentar seu encantador corpo de baile, que nos comoveu e nos deu a certeza de que existe o "ballet" em nossa Capital.
Foi um bonito presente de Natal feito à cidade pela mestra admirável e por suas sessenta alunas, bailarinas de palmo e meio e outras bailarinas.
Fpolis, 22 de dezembro de 1952