domingo, 3 de agosto de 2008

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 7

O recomeço

Quando vim morar em Florianópolis, mamãe ficou entusiasmada para reabrir a escola, agora comigo como assistente, fiquei entusiasmada também. Meu marido nos deu a maior força! Tínhamos construído um apartamento para nós, e em baixo do apartamento havia um grande salão que adaptamos para as aulas, colocamos os espelhos, as barras etc... e reabrimos a Escola de Bailados Clássicos Albertina Saikowska de Ganzo, na Rua Feliciano Nunesjavascript:void(0) Pires, em 1970.
Foi muito bom, deu à mamãe um novo ânimo de viver!
Desde então coloquei minha criatividade para ajudar nas coreografias ( dava os meus palpites, e ela acatava ) e também comecei a desenhar os figurinos das apresentações.
Mamãe sempre doou a renda total dos espetáculos para entidades beneficentes, os primeiros anos, para a Sociedade de Amparo aos Tuberculosos, e Casa das Meninas, depois que recomeçamos, doamos para a Serte e Apae.
Em novembro de 1972, o nosso primeiro espetáculo depois da reabertura, foi em homenagem à dona Dayse Werner Salles, esposa do então governador do Estado Sr.Colombo Machado Salles.
Foi no TAC, ainda era o único teatro de Florianópolis. A iluminação, a cargo dos irmãos Carlos e Cláudio Morais, e o contra-regras era o Valdir Dutra..
Apresentávamos coreografias avulsas, como um “divertissement”, sem cenário, a não ser no espetáculo de 1957, mas o cenário daquele ano se perdeu em 1958, num dia de muita chuva, no porão de nossa casa, que encheu de água, tivemos de chamar até os bombeiros. ( foi quando papai se acidentou).
Compensávamos a falta do cenário com uma bonita decoração do procênio, com flores e corbeilles, e ficava muito bonito!. Para continuar a tradição que ela tinha começado nos seus primeiros espetáculos, começamos com “Uma aula” e o noturno de Chopin.
Neste recomeço, tivemos já, alunas que eram filhas de ex-alunas de mamãe Como suas mães, elas gostavam de ballet, mas algumas, as mães traziam quase que a força, pois se sentiam frustradas de não poderem estudar, queriam que suas filhas fossem bailarinas a qualquer custo. Isto não é bom. Como tudo na vida a pessoa tem de gostar do que faz.
O Ballet é lindo, mas precisa que se goste realmente.Exige muita dedicação, disciplina, perseverança e sacrifícios. Os primeiros anos são maçantes, realmente maçantes, mas a partir do terceiro ano, as aulas começam a ter um dinamismo envolvente, que faz a gente se esquecer das repetições maçantes dos primeiros anos.
Neste ano eu dancei, de novo, e me fez feliz! Era professora, mas mamãe queria coreografar um número de dança russa e não tínhamos nenhuma aluna que soubesse fazer os passos que geralmente os homens fazem ( mulheres, nunca) somente eu, sabia fazer. Eu dancei! As alunas mais altas ( quando era preciso) dançavam papeis masculinos, pois havia uma ausência total de homens na escola .
Lembro-me de meus filhos assistindo no camarote, e gritando “Aí mamãe!”. Eu quase morri de vergonha! Mas foi muito bom! Até meu marido me incentivou.