terça-feira, 5 de agosto de 2008

BAILARINAS DE PALMO E MEIO E OUTRAS BAILARINAS


1ª Apresentação da Escola de Danças Clássicas Albertina S. de Ganzo

"Dança Russa" - TAC - 20 de dezembro de 1952



por SÁLVIO DE OLIVEIRA


De quando em vez, nosso velho Teatro Alvaro de Carvalho toma ares de prima-dona aposentada e se veste para uma reentré de gala.
Iluminam-se-lhes os salões, dão-se-lhe novos retoques nos cenários envelhecidos e o público esquece as enormes deficiências da primeira casa de espetáculos da Capital catarinense.
Comovido, por certo, o velho casarão, nessas noites, livre da asfixia de tantos anos de inação e de cinema, passeará os olhos enormes pelos camarotes, pela platéia, relembrará as frisas e, até mesmo, as galerias, onde, outrora, outras gerações mais amantes da arte e mais distantes do futebol, aplaudiram Crara Woiss, "rainha da opereta", Jordanini, Leopoldo Froes, Chabi Pinheiro e nossa incomparável Margarida Lopes de Almeida. Lembrará, também, espetáculos como "A Flor da Roça", "seu Jeca quer casar", "A Ilha dos casos raros", "Ouro sôbre Azul", produtos cá da Ilha.
Comovido, juntará seus aplausos, de entusiasmo e gratidão, aos aplusos que coroam trabalhos de arte como o que acaba de apresentar a Florianópolis - D. ALBERTINA SAIKOWSKA DE GANZO.
A ilustre professora e coreógrafa, no seu dizer, pretendia oferecer "o despretencioso espetáculo de Ballet que vamos apresentar, nada mais é do que uma demonstração do que se pode coordenar no curto espaço de um ano, como a boa vontade, o capricho e a graça deste pequeno grupo de meninas e de moças que nele tomam parte". Foi, porém, muito mais alto, ultrapassou os limites impostos pela sua modestia, suplantou qualquer espectativa.
Vimos neste pequeno grupo, ao contrário do que afirma sua competente mestra, não só "meninas e moças que aprendem com o bailado clássico, a beleza de movimentos e a graça de caminhar tão admiradas na mulher", mas futuras bailarinas; bailarinas de palmo e meio, figurinhas d econtos de fadas, como Lucinha Aquino d'Avila, Alzirinha Ferreira, Lúcia Rupp, Vera Luz, Jaçanã Coelho, Teresinha Silva e outras bailarinas, encantadoras adolescentes, onde se destacam Ada Madalena Gonzaga, Maria Leônida Souza, Sônia Barbato, Pochi ganzo, eliana Cabral, Célia Brognoli e Lurdete Brina. E estamos certos, não haveria destaques se oportunidades iguais fôssem dadas a todas as alunas, de seis a dezessete anos, todas talentosas, como foi a revelação dos bailados em que participaram. "Dança Russa", com música de Tchaikowsky, foi o ponto alto das apresentações em conjunto. A coreografia de D. Albertina, o maravilhoso guarda-roupa e a atuação de todas as alunas, perto de sessenta figurantes, aliadas a perfeita execução da orquestra regida pelo Maestro Peluso, deixou-nos a agradável impressão de um verdadeiro espetáculo de "ballet", igual aos de 1948, uma das mais felizes do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
A orquestra, sob a regência do Maestro Peluso, em todos os números do programa, conduziu-se com rara felicidade, fazendo com que houvesse, sempre, perfeita coordenação entre a música e movimento. aqui, há a ressaltar a impressionante interpretação de ada Madalena, em "Boneca" e os bonitos desempenhos de Eliana Souza Cabral, em "Silhueta" e Pochi Ganzo, em "O Cisne", onde música e gesto apareceram na mais perfeita harmonia.
Mas, além disso, são tantas as boas qualidades nesta primeira apresentação da Escola de Danças Clássicas, que ao cronista é difícil dizer tudo, de uma só vez.
Não se poderá porém, deixar para mais tarde as referências ao luxuoso gurada roupa, dos mais custosos até hoje realizados em Florianópolis, por iniciativa particular. E chega o momento de fazermos nossa primeira restrição: a cor do cenário, cortinas de um vermelho escuro, reponsáveis pela a ausência de realce nas cores das vestes e maquiage das pequenas bailarinas. Perderam êstes, grande parte de sua beleza, o que não aconteceria, diz-nos a experiência, se fôsse usada uma rotunda azul, iluminada de baixo para cima. Aliás, o Jôgo de luzes também não foi dos mais felizes.Deixamos porém, tais deficiências e tudo o mais que se refira a equipagem teatral, a culpa da velha casa onde foi montado o espetáculo, por si só um verdairo milagre, pois nunca se viu tão bem arrumado, limpo e apresentável, como na noite de 20 corrente.
D. Albertina, a grande vitoriosa dessa memorável noite, e seus mais diretos auxiliares na enorme tarefa, devem ter aprendido a lição de se fazer teatro em Florianópolis é também reconstruir o prédio do teatro, não basta ser coreógrafo, cantor, músico ou ator.
Mas, a despeito de tôdas dificuldades, após dias e dias de trabalho árduo e de incansável tenacidade, D. ALBERTINA SAIKOWSKA DE GANZO, pode apresentar seu encantador corpo de baile, que nos comoveu e nos deu a certeza de que existe o "ballet" em nossa Capital.
Foi um bonito presente de Natal feito à cidade pela mestra admirável e por suas sessenta alunas, bailarinas de palmo e meio e outras bailarinas.
Fpolis, 22 de dezembro de 1952

Escola de "Ballet"


2ª Apresentação da Escola de Danças de Albertina S. de Ganzo - FAC - 1953




Gustavo Neves (Crônica lida ao microfone da Rádio Guarujá no dia 15-12-1953)



"Não sei se a sociedade Florianópolitana, em todos os seus círculos representativos, já se apercebeu do que é a obra de sentido eminentemente cultural e artístico que a professora Albertina Saikowska de Ganzo está realizando entre nós. A sua Escola de Ballet está fazendo a sua segunda demonstração, em maravilhosos festivais de benefício, no confortável Estádio da Federação Atlética. As alunas da professora Albertina Saikowska de Ganzo, nessas esplendidas exibições de bailados, não só revelam, magnificamente, as grandes e nobres qualidades interpretativas que possuem, ainda na idade em que as emoções ingênuas não contam com o lastro das experiências vividas; mas também depoem de maneira eloquente, em favor da insuperável capacidade da mesma, verdadeira fada a produzir o milagre estético do ritmo, da graça, da expressão mímica e da harmonia nessa pleiade leve e encantadora de meninas que sempre confiaram ao aprendizado da coreografia clássica. E essa obra de designação espiritual e de alta cultura que é também meritório trabalho de catequese da estesia em meio social de já comprovada receptividade, a Fada realiza-a com tal entusiasmo e com tamanho embevecimento que não haverá como recompensá-la em valores materiais, tanto contrastam êste com os móveis do artista que busca a expressão do Belo e que nessa busca se integra, cheio daquela Graça imponderável que lhe nutre o ideal.
A professora Albertina de Ganzo é incontestávelmente, a criadora, entre nós, duma nova sensibilidade artística, felizmente correspondida na intuição de suas alunas, em cujas almas sabe infundir os segredos do gesto impressivo, o fascínio do ritmo e da figuração interpretativos, que não falam apenas das emoções do presente, porque vêm do eterno e profundo mistério das almas, e êstes transcendem limites de tempo e espaço...
Benditas sejam tôdas as iniciativas assim tocadas de sadia espiritualidade. Hoje representam salutar e oportuna reação ao abastardamento do que de mais expressivo do requinte humano valerá como airoso sinete de nobreza das almas verdadeiramente fidalgas... A Escola da professoara Albertina Saikowska de Ganzo reune numeroso corpo de alunas, cujo aproveitamento extraordinário, demonstrado em duas oportunidades, dignifica a geração a que elas pertencem. E não é muito que nos orgulhemos disso, tanto é certo que eleva a índices horosos o conceito de bom-gosto e da cultura da socidade catarinense. Nem por outra razão é que eu, deste modesto pôsto de observação dos acontecimentos da cidade, envio as minhas saudações e os meus aplausos não só à exímia professora, como também às encantadoras bailarinazinhas que magnificamente apreendem o sentido da graça através da sugestão rítmica do movimento e da mímica, que constitui o bailado clássico."

domingo, 3 de agosto de 2008

Duas vidas dedicadas ao Ballet


Albertina Saikowska de Ganzo



2 de agosto de 2000, mais ou menos três horas da tarde,o telefone toca.
_ Dona Pochi venha ao hospital, sua mãe não passa bem. Era uma das quatro enfermeiras particular que ela tinha já fazia um ano e meio.
Peguei meu corsinha (1) e fui imediatamente para lá. Ao chegar, a médica de mamãe veio ao meu encontro no hall, com um semblante que não tive dúvidas, mamãe falecera.
_ Infelizmente ela já faleceu, disse a médica.
_ Meu Deus! E eu nem estava lá. Me levaram onde a tinham colocado ( pois faleceu na UTI e não podia ficar lá)
Fui correndo pelos corredores até uma câmara fria , um quarto tétrico e gelado.
Mamãe querida! Que sensação horrível ver sua mãe embrulhada até a cabeça num lençol verde. Abri os panos para poder beijar-lhe o rosto, meu ultimo beijo.
Um dia antes, ela estava um pouco melhor, mas com o tubo na boca para poder respirar.
A UTI tem horários, e nós nos revezávamos, meu irmão e minha sobrinha Adriana ,o meu horário era o da noite, era bom, porque como era a última visita, a enfermeira sempre me deixava ficar um pouco além do tempo.
Como ela estava melhor, os médicos estavam querendo tirar os tubos para ver se ela já poderia respirar sozinha, eu achei ótimo, achei que ia dar certo!
Na minha última visita, conversei muito com ela, dando ânimo, que tudo ia correr bem, que ela iria respirar sem os tubos, seria um alívio. Mamãe estava descrente, fazia uma cruz com os dedos cruzados, como prevendo que iria morrer..
_ Não mamãe, não fiques assim, tudo vai dar certo!
_A enfermeira veio me avisar que já estava na hora de eu ir embora, mamãe me pegou pela mão, me beijou e fez um sinal da cruz com a mão, como me abençoando.
Mas o pior aconteceu. Quando os médicos a desentubaram, ela não agüentou, até tentaram colocar os tubos novamente, mas já era tarde.
A enfermeira me pediu que fosse ao apartamento dela pegar as roupas para o enterro.
Corri ao apartamento, e enquanto dirigia, subia o elevador e procurava as suas roupas, pensava em como ela era boa, como fui feliz com essa mãe carinhosa, cheia de amor.
Tudo que sou, devo à ela. Eu e o Estado de Santa Catarina devemos muito à ela.
Foi ela que em 1950, abriu a primeira escola de ballet em nosso Estado.



(1) Corsa, automóvel da Chevrolet, GM

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 2


Albertina Saikowska e seu irmão Aleksander Saikowsky


Começou assim:

Mamãe nasceu em Tibilisi, no Cáucaso Russo, entre o Mar Negro e o Mar Cáspio.
Não sei muito bem a história e me arrependo muito de nunca ter me interessado de conhecer a história completa de minha família, tanto pelo lado de mamãe como a do papai que também foi muito interessante.
Acho que quase todos somos assim, não conhecemos a árvore genealógica da família, mas foi uma pena , quando tive a oportunidade de conhecer, com vovô, vovó, todos vivos, não me interessei, agora não tenho mais ninguém que conheça realmente a história.
Mas vou contar o pouco que sei.
Vovô era oficial do Czar Nicolau II , (aquele, da Anastácia...) Capitão, para ser mais precisa,
( papai o chamava de “capitão Boleslaw”)
Devia ter muita bravura, pois tenho uma foto dele cheio de medalhas no peito.
Sei que ele lutou na guerra da Criméia ( russos contra os turcos ), vovó contava que em determinada faze da guerra, ele era o responsável por um campo de prisioneiros turcos, e ele era bom, respeitava os presos. Depois, de uma reviravolta na guerra, a situação reverteu, e os turcos prenderam alguns oficiais russos, entre eles meu avô.
Os turcos fizeram os russos andarem na neve, descalços,( com certeza muitos perderam os pés com cangrena), mas vovô andou com as botas, e se salvou de ter os pés amputados.
Um dos turcos reconheceu meu avô e falou aos outros que ele tinha sido bom na prisão, então pouparam ele.
Com exemplos como este é que fui criada, dando valor a bondade e honestidade.
Bem, voltando à mamãe....... quando ela tinha meses, vovô teve de fugir da rússia, ( estava implantado o regime bolchevique).
Vovó contava que eles foram para a Polônia primeiro, pois vovô tinha herdado um sitio que era da família, aproveitaram para morar. Mas era inverno, não tinham o que comer, só tinham macieiras plantadas no sitio. Na época da revolução bolchevista todos passaram muita fome, a família de mamãe só comia maçãs. Mamãe enjoou de tal forma, que só foi comer uma maçã, quando eu já era adolescente. Me lembro bem! ,
Meu avô vendeu o sitio, mas o dinheiro tinha desvalorizado tanto que não adiantou nada, não valia nada! Ele até nos deu muitos “rublos” da época que eu ainda tenho. Foram então para a Lituania, onde já vivia tia Zeferina, a irmã mais velha de mamãe, casada com o filho do prefeito de uma cidadezinha. Fugiram em um vagão de gado ( como no filme Dr Jivago ) .
Mamãe tinha 4 irmãos, Zeferina (que sempre chamei de tia Ira), Lílian, Jadwiga ( que sempre chamei de tia Lídia ) Alexander ( que sempre chamei de tio Sacha) e Albertina ( mamãe).
Ficaram uns 8 anos entre Lituânia e Polonia.
Um namorado de tia Lídia, que era polonês, soube que o Brasil estava aceitando imigrantes estrangeiros para trabalharem, então vovô se animou para trazer a família, a situação lá estava cada vez pior. Foram para Lion, um grande porto na França, para esperarem o navio.
Mas só veio vovô com tio Sacha, na época um adolescente, e tio Henrique, que era o namorado de tia Lídia e que depois se casou com ela. Vovó, tia Ira ( já tinha se separado do marido que era alcoólatra) Lídia e mamãe, ficaram em Lion, ( a outra filha, Lílian, já era uma bailarina famosa e não veio, fui conhecê-la em 1950, no Rio de Janeiro nas bodas de ouro de meus avós).
Enquanto vovó esperava em Lion, vovô, no Brasil procurava um trabalho.
Ele sempre foi militar, não sabia fazer outra coisa, foi muito difícil para ele mudar de vida, de pais, mas sempre foram muito gratos ao Brasil. Vovó dizia que o Brasil era uma terra abençoada. Aqui nunca nevava, as árvores estavam sempre verdes, tudo é muito colorido. Me ensinou a ser orgulhosa de minha terra.
Eles eram mais patriotas que muitos brasileiros.
Quem achou primeiro um emprego foi tio Henrique, como era marcineiro e marcheteiro,
conseguiu serviço na Fábrica Brunswick de Bilhares, que era de poloneses, e conseguiu para vovô e tio Sacha, lá também.
Vovô levou quatro meses para poder trazer a família para o Brasil. Ficaram no Rio de Janeiro, onde era a fábrica.

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 3


Mamãe contava que passaram fome, no princípio, mas já estavam acostumadas.....
O importante é que estavam juntos novamente! Não sei como vovó soube que uma professora russa dava aulas de ballet no Teatro Municipal do Rio, era Maria Olenewa. Falou com ela e conseguiu que mamãe entrasse para a escola.
Maria Olenewa foi uma grande amiga de mamãe, se correspondia com ela até sua morte
( se suicidou, atirando-se do edifício que morava, quando soube que estava com câncer)
Mamãe, apesar da dificuldade de locomoção para poder fazer as aulas ( morava em Duque de Caxias, no subúrbio) , tinha de pegar 2 trens, e andar a pé até o centro do Rio onde fica o Teatro Municipal, fez o curso na maior alegria.
Algumas colegas, sabendo da dificuldade que a família passava, ajudaram muito à ela, dando roupas, com certeza dando sapatilhas, e roupas de ballet.
Uma dessas amigas eu conheci, quando já estudava ballet com mamãe, ela me levou ao Teatro Municipal para assistir uma aula cuja professora era essa amiga.
Depois de algum tempo, mamãe entrou para o Corpo de Baile e aí começou a ganhar cachê, o que ajudou muito à família.
Foi convidada para ser solista, mas bem na época ela já namorava meu pai e estava perdidamente apaixonada ( ela sempre foi, até papai falecer em 1982).
Ele pediu para ela casar com ele e morar e Florianópolis, então desistiu de ser solista, de ter uma carreira talvez brilhante, quem sabe! Mas o amor venceu!
Naquele tempo, aqui no Brasil não havia o “divórcio”, e papai era “desquitado” de sua primeira esposa ( Corina) , em Bagé, e eles não puderam se casar legalmente.
Só quando a ex- esposa faleceu ( na época do nascimento de meu quinto filho) é que eles puderam se casar realmente. Mas o amor deles era tão grande, que eu e meu irmão sempre os consideramos realmente casados.
Voltando ao Ballet..... então mamãe veio para Florianópolis, em 1937, num hidroavião,
( ela contava que no mesmo avião vinha Borges de Medeiros, o grande estadista gaúcho ) e o avião parava no trapiche da pracinha do Katcipes ( praça da Esteves Junior).
Mamãe estava na maior felicidade, ela tinha 17 anos!
Passaram a “lua de mel” no antigo hotel de Caldas da Imperatriz, devo ter sido gerada aí, pois sempre gostei muito deste lugar.

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 4


Em 1938, eu nasci!
Naquela época, em Florianópolis, era comum a sociedade promover muitos eventos beneficentes com canto, música, declamações e dança.
Faziam saraus dançantes, eram muito bonitos e ingênuos, diferentes de hoje......
Amigas da mamãe pediam para ela coreografar e ensaiar garotas da sociedade para dançarem nas festas, e ela fazia. Eram lindas festas!
Com o tempo, começaram a pedir que mamãe abrisse uma escola de ballet, mas como eu e meu irmão éramos pequenos ainda, ela queria se dedicar mais à nossa educação.
Papai era diretor da Companhia Telefônica Catarinense, que era de meu avô, Cel. Ganzo,
espanhol, nascido nas Canárias e que veio para o Uruguai muito jovem, e se casou com vovó Clorinda , ele tinha 19 anos e ela 14 anos.
Papai contava que vovô montou a primeira central telefônica com 19 anos, em Florida , perto de Montevideu. Foi também o autor da primeira linha telefônica internacional do Brasil, entre Melo e Bagé.
Em 1908, vovô vai para Porto Alegre e funda a Companhia Telephônica Riograndense, era realmente um pioneiro! Vovô era chamado de “coronel”, por ter participado como “Blanco” em episódio armado no Uruguai.
Bem, quando eu tinha 12 anos, por insistência de vovô Ganzo e das amigas de mamãe, papai deixou que ela abrisse a Escola de Bailados Clássicos Albertina Saikowska de Ganzo., (a primeira no Estado de Santa Catarina, alguns anos depois é que começou a escola de ballet de Blumenau)
Incrível é a data que mamãe escolheu para a primeira aula, primeiro de novembro, Dia de Todos os Santos, (apesar de feriado, vieram muitas alunas para a aula inaugural), ela dizia que era para dar sorte, todos os santos ajudariam,...... e parece que ajudaram, pois já se passaram 55 anos e a escola ainda funciona!
Voltemos à 1951, primeiro de novembro, minha primeira aula de ballet, com outras 60 alunas! Mamãe começou já com 60 alunas, era o máximo!
Ballet em Florianópolis? Novidade!

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 5



Alunas ao final da apresentação 1952



Ao fim do primeiro ano de aulas, 1952, fez o primeiro festival de final de ano, no TAC, Teatro Álvaro de Carvalho, na época era o único. Lembro-me que o primeiro número da segunda parte foi muito bonito, se chamava “Gregas”. Com a música Clair de Lune de Debussi, com uma iluminação azulada, um cenário com quatro colunas que papai mandou fazer, e nós ( eu dancei ) com túnicas gregas, e umas guirlandas de flores que colocávamos nas colunas fazendo um desenho final muito bonito.
Essas guirlandas foram tão bem feitas, ( por uma velhinha que morava em frente onde é o Clube 12 hoje ) que até hoje uso para enfeitar minha casa no Natal, são quase tão velhas quanto eu. As colunas gregas também sobreviveram alguns bons anos, ( serviram de cenário mais umas duas vezes depois que reiniciamos a escola).
Papai mandou os peões da Telefônica ( que era de meu avô) ajudarem mamãe à tirar o lixo do teatro, e tiraram 2 caminhões! Naquela época o Teatro era usado como cinema.
Mamãe decorou todo o teatro, ficou bonito! E dançamos, ao som da orquestra sinfônica
regida pelo saudoso maestro Peluso. Que chique! Era com orquestra sinfônica!
Que trabalho! Nos ensaios, ou faltava aluna ou faltava músico. Para unir tudo........
Mas era muito bom! Só tinha um problema sério, seríssimo, não tínhamos um local adequado para as aulas. Mamãe dava as aulas na sala que seria do nosso apartamento, que vovô tinha mandado construir, em cima da CTC ( Cia Telefônica Catarinense, na praça 15 de novembro ), mas papai não quis se mudar para lá, então mamãe aproveitou o apartamento para dar as aulas. Era pequeno, mas dava. Só que ela tinha de dar muito mais aulas por dia para atender todas as alunas, eram poucas por turma.
Lembro-me que uma vez ela chegou a ficar completamente sem voz, mas mesmo assim deu as aulas. Nosso uniforme era de “piquê” ( um tecido feito de algodão) rosa ou azul claro, dependendo do nível, mais tarde quando já tinham alunas mais adiantadas o uniforme era do mesmo tecido porém preto. Eram de alça, e saia godê curtinha, e tinha uma bombachinha curta como calcinha, separada. As sapatilhas de ponta para as aulas, eram de pelica preta, para dançar nas apresentações, tínhamos que encomendar as sapatilhas cor de rosa de cetim.
Meu pai fazia os programas e mandava imprimir. Sempre gostei de ajuda-lo neste serviço.
Foi um evento muito comentado, um radialista, o Acy Cabral Teive, leu uma crônica muito bonita que escreveu para a Rádio Guarujá, o jornal A Gazeta publicou uma página inteira ( impossível hoje ) com fotos e reportagem de Sálvio de Oliveira, tecendo os maiores elogios.
Foi realmente muito bonita para a época.
Na segunda apresentação, 1953, o teatro estava sendo reformado, pois tinha sido transformado por alguns anos, em cinema, Cine Odeon, e estava realmente precisando de uma grande reforma, então tivemos de fazer a apresentação na FAC, Federação Atlética Catarinense, hoje estádio Rosendo Lima, na Av. Hercílio Luz.
O presidente da FAC era o sr Osmar Cunha, que muito gentilmente cedeu o local, ( sua filha também era aluna de mamãe). O governador, sr Irineu Bornhausen, autorizou seu secretário de obras, o sr Otto Entres à construir um lindo palco dentro do estádio, que na época não era coberto. Aconteceu que o tempo ficou ruim, caiu uma tempestade de verão, durante uns três dias choveu muito, tivemos que adiar até que o tempo melhorasse e o palco secasse.
Não me lembro quantos dias, acho que uma semana. Que contratempo!
Imagine! Alunas, orquestra, todos esperando, sem saber quando a situação melhoraria.
Mas tudo deu certo! Mamãe fez a apresentação, e foi um sucesso! Linda! A noite estava maravilhosa, com lua, estrelas e tudo que tem direito!
Minha mãe sempre começava o espetáculo com “Uma Aula”, um port de bras, com todas as alunas, e com o noturno de Chopin, era emocionante, muito delicado. Lembro-me que as mães já começavam a chorar desde aí, no começo! .
O maestro Emmanuel Peluso, era um gentlemam, muito paciente e delicado com todos, eu gostava muito dele, fiquei amiga, e anos mais tarde, já casada, encontrava com ele na feira e conversávamos muito, lembrando os bons tempos.

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 6


Albertina Saikowska em 1933


Mamãe começou a fazer os festivais de dois em dois anos, por isso, o terceiro festival foi em 1955.
Papai fez um bonito programa com um desenho feito por ele na capa. Neste ano o governador Irineu Bornhausem já tinha inaugurado o teatro novo, reformado, bonito!
Como sempre, o festival foi um sucesso, só que sem a orquestra, já com música mecânica, como tem sido até hoje. A primeira parte era uma historia: É Natal, uma menina pobre vê uma vitrine cheia de brinquedos, triste ela dorme, a fada aparece e a leva para o reino dos brinquedos .Mamãe mandou confeccionar um cenário que ficou muito bonito. Era um tema ótimo para crianças, foi uma apresentação muito linda.
A menina pobre era Vera Lucia da Luz Nóbrega que já a época estava se sobressaindo pelo seu talento. Haviam algumas meninas talentosas, muitas hoje, senhoras da sociedade florianopolitana.
Tenho a impressão que se perguntassem em todas as famílias da sociedade daquele tempo quem das senhoras estudou com minha mãe, a maioria diria que sim.
O quarto festival, foi em 15 de novembro de 1957. Neste ano, mamãe introduziu o primeiro elemento masculino na escola, um rapaz da cidade, de origem modesta, com muita vontade de ser bailarino, Luiz Carlos Santana.
Fez tanto sucesso dançando um Pás de Deux com a melhor aluna, Vera Lucia da Luz Nóbrega,
(hoje Vera Bublitz, dona de uma grande escola de ballet em Porto Alegre), que o público pensou que mamãe tinha contratado um bailarino do Rio.
Uns dias antes ele ficou muito gripado, não tinha como comprar remédio nem comida.
Minha mãe subiu o morro onde ele morava, (hoje em dia seria uma temeridade) e levou remédios e comida.
Ele melhorou, se apresentou, e foi aquele sucesso! Neste ano me casei, e fui morar em Porto Alegre.
No começo de 1958, papai sofreu um grave acidente e ficou hospitalizado por um bom tempo, mamãe também adoeceu, teve úlcera gástrica, talvez pelo stresse, o acidente de papai, a falta de meu irmão, que já tinha ido fazer a faculdade de engenharia em Porto Alegre, e logo em seguida o meu casamento. Tudo contribuiu.
Mas ela continuou com a escola até 1960. Depois não teve mais condições, e parou por dez anos.

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 7

O recomeço

Quando vim morar em Florianópolis, mamãe ficou entusiasmada para reabrir a escola, agora comigo como assistente, fiquei entusiasmada também. Meu marido nos deu a maior força! Tínhamos construído um apartamento para nós, e em baixo do apartamento havia um grande salão que adaptamos para as aulas, colocamos os espelhos, as barras etc... e reabrimos a Escola de Bailados Clássicos Albertina Saikowska de Ganzo, na Rua Feliciano Nunesjavascript:void(0) Pires, em 1970.
Foi muito bom, deu à mamãe um novo ânimo de viver!
Desde então coloquei minha criatividade para ajudar nas coreografias ( dava os meus palpites, e ela acatava ) e também comecei a desenhar os figurinos das apresentações.
Mamãe sempre doou a renda total dos espetáculos para entidades beneficentes, os primeiros anos, para a Sociedade de Amparo aos Tuberculosos, e Casa das Meninas, depois que recomeçamos, doamos para a Serte e Apae.
Em novembro de 1972, o nosso primeiro espetáculo depois da reabertura, foi em homenagem à dona Dayse Werner Salles, esposa do então governador do Estado Sr.Colombo Machado Salles.
Foi no TAC, ainda era o único teatro de Florianópolis. A iluminação, a cargo dos irmãos Carlos e Cláudio Morais, e o contra-regras era o Valdir Dutra..
Apresentávamos coreografias avulsas, como um “divertissement”, sem cenário, a não ser no espetáculo de 1957, mas o cenário daquele ano se perdeu em 1958, num dia de muita chuva, no porão de nossa casa, que encheu de água, tivemos de chamar até os bombeiros. ( foi quando papai se acidentou).
Compensávamos a falta do cenário com uma bonita decoração do procênio, com flores e corbeilles, e ficava muito bonito!. Para continuar a tradição que ela tinha começado nos seus primeiros espetáculos, começamos com “Uma aula” e o noturno de Chopin.
Neste recomeço, tivemos já, alunas que eram filhas de ex-alunas de mamãe Como suas mães, elas gostavam de ballet, mas algumas, as mães traziam quase que a força, pois se sentiam frustradas de não poderem estudar, queriam que suas filhas fossem bailarinas a qualquer custo. Isto não é bom. Como tudo na vida a pessoa tem de gostar do que faz.
O Ballet é lindo, mas precisa que se goste realmente.Exige muita dedicação, disciplina, perseverança e sacrifícios. Os primeiros anos são maçantes, realmente maçantes, mas a partir do terceiro ano, as aulas começam a ter um dinamismo envolvente, que faz a gente se esquecer das repetições maçantes dos primeiros anos.
Neste ano eu dancei, de novo, e me fez feliz! Era professora, mas mamãe queria coreografar um número de dança russa e não tínhamos nenhuma aluna que soubesse fazer os passos que geralmente os homens fazem ( mulheres, nunca) somente eu, sabia fazer. Eu dancei! As alunas mais altas ( quando era preciso) dançavam papeis masculinos, pois havia uma ausência total de homens na escola .
Lembro-me de meus filhos assistindo no camarote, e gritando “Aí mamãe!”. Eu quase morri de vergonha! Mas foi muito bom! Até meu marido me incentivou.

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 8

No ano de 1974, também em novembro, fizemos nova apresentação, não teve um nome específico (mamãe não colocava nomes nos espetáculos, eu é que comecei colocando) só tinha o nome da Escola na capa.. Depois que fiquei como assistente de mamãe, eu e meu marido passamos a fazer os programas, que eram batidos na máquina de escrever, qualquer errinho, principalmente no nome das alunas, era um transtorno, e quando era a prova final então? A última, antes de ir para a gráfica! Hoje é tudo tão fácil, com o computador.....
Um episódio engraçado, mas quase trágico, aconteceu num ensaio. Eu tinha uma aluna (eu dava as aulas para baby até primeiro ano básico), que era uma “capetinha”, levadíssima!
No ensaio geral, ela aprontou tanto que as mães das outras pequeninas que dançavam no mesmo número que ela, era “Sonho de uma noite de verão” onde tinham flores, borboletas, passarinhos, abelhinhas, joaninhas ( ela era joaninha), me deram um ultimato,.
- Ou a senhora tira esta menina da dança ou nós tiramos as nossas.
- Imagine a situação, como poderia fazer isso? No ensaio geral? Um dia antes do espetáculo?
Então falei com a própria menina, na época acho que tinha uns 5 anos, e pedi que se comportasse, que fizesse tudo direitinho.....
E ela fez! O espetáculo foi tão bonito! Este número das abelhinhas foi um sucesso! As mães ficaram admiradas do comportamento dela e até se arrependeram de ter me dado aquele ultimato. A menina, Ana Amélia, no ano seguinte foi morar no Rio de Janeiro, estudou ballet lá e voltou, anos depois para a nossa escola, e foi uma das melhores alunas.
Deve ter sido um problema desagradável para eu ter me esquecido do porquê de não termos feito a seguinte apresentação em 1976, como seria o normal. Realmente não me lembro!

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 9

Em 1977, fiz o” III Festival” da nova escola, Cada apresentação sempre tem coisas agradáveis, desagradáveis e cômicas para se lembrar. As desagradáveis eu procuro esquecer, mas as agradáveis e cômicas até é bom de recordar,
Neste ano aconteceu uma muito cômica. As aluninhas de Baby são meninas de 5 e 6 anos, e nesta idade elas são imprevisíveis, por mais que se ensine, que se mostre, que no palco a coisa é séria, elas são muito espontâneas, fazem coisas inesperadas.
Um dos números era uma Dança Portuguesa, exatamente com o baby, era uma gracinha, as mães capricharam nas fantasias, as meninas estavam lindas, naquele ano fizemos três apresentações. Cada apresentação, quando chegava a hora da Dança Portuguesa o público já ria antecipadamente pois sabia que alguma coisa ia acontecer de engraçado.Brigavam, alguma corria para a coxia e outra ia buscar, uma que sabia a coreografia melhor, arrumava no lugar certo outra que estava errada, etc...
Para falar a verdade, números de dança com babys, sempre são engraçados, por mais sérios que se possa querer. Mas naquele ano parece que foi mais engraçado, pelo menos me marcou muito.
Desde aí eu deixei de me preocupar muito em querer que elas façam exatamente o que queremos, pois é uma tarefa impossível! Fazemos o máximo, mas o resto é com elas! E sempre deu certo! Os números de criancinhas são sempre os mais divertidos, o público adora!
A próxima apresentação aconteceu em 1979. A primeira parte foi baseado na história de “Alice no País das Maravilhas”que é um tema bem interessante, se chamava: “No mundo do faz de conta”,
Aí começamos a ter o Falcão como iluminador, que ficou por uns bons anos!
Lembro-me de que neste ano, uma das costureiras, quis economizar o tule dos tutus, ( para sobrar para ela ) e quando nos entregou, já no dia do ensaio geral, os tutus estavam mínimos, ridículos!
Algumas mães e eu, fomos ao atelier, pegamos o tecido que tinha sobrado (que era quase tudo) e nos dividimos, umas foram para a casa de uma das mães, e eu com algumas alunas maiores e que eram as donas dos tutus, ficamos na minha casa, costurando. Corta daqui, prega dali, chovia muito, um temporal que nunca esquecerei. E já era dia do espetáculo! Que sufoco! Mas como sempre, deu tudo certo! Parece que Deus fica penalizado com tanto esforço da gente, que sempre dá uma ajudazinha.
Em 1980, mamãe parou de dar aulas, pois papai ficou gravemente doente, já estava doente há dois anos, mas piorou muito e ela teve de ficar em casa cuidando dele.
Fiquei sozinha com a responsabilidade de administrar a escola. Dando aulas, fazendo as coreografias e responsável pelos figurinos, foi horrível.
Que falta me fazia a mamãe!
Não tinha experiência ainda dos trâmites para poder fazer uma apresentação (até aí quem fazia essas coisa era ela, que tinha experiência)
Só sei que na apresentação de 1981, não fizemos programa, foi lido ao microfone, e como o fotógrafo sempre tinha sido meu tio Sacha (que era fotógrafo no Rio), e ele não pôde vir à Florianópolis, contratei um senhor que apareceu no teatro se oferecendo para bater as fotos.
Ficamos esperando dias que ele nos trouxesse os contatos para vermos, depois fiquei sabendo que ele tinha morrido, e por azar, velado as fotos. Só tenho pouquíssimas fotos batidas pela mãe de uma aluna.

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 10

Minha estréia como responsável pela escola, não foi muito boa!
Quando assumi a direção da escola, a transformei em academia, contratei um professor de ballet clássico, professores de Jazz e de ginástica. Este professor de clássico, o Eduardo Nunes, era do Teatro Municipal do Rio, ele era um dos 22 bailarinos que a Dalal Achkar, dispensou.
Era muito bom, no princípio, mas depois me incomodou tanto, tanto, que só descansei quando senti que o ônibus dele já deveria estar por Joinville, e mesmo assim ainda tinha medo que ele voltasse! Eu não tinha experiência em lidar com professores homens, aprendi do modo difícil !
Em julho de 1982, papai faleceu, foi um ano muito triste para mim.
No ano seguinte, 1983, pedi a pauta do TAC como sempre, bem cedo, no começo do ano, pois era muito solicitado. Neste tempo o teatro do CIC estava recém inaugurado.
Uma outra professora de ballet que tinha na época, Sandra Nolla (uma ótima professora ), pediu também, e a direção do teatro concedeu, por coincidência, os mesmos dias que nós tínhamos solicitado, para ela. Então provei que o meu pedido tinha sido bem anterior ao dela.
Eles não tiveram outro jeito senão me ceder o novo teatro. Assim, quase que inauguramos o CIC. Foi ótimo! Teatro novo, grande, muito maior que o TAC, mas isto nos trouxe um transtorno. Eu tinha feito o cenário para um teatro menor (eu que pintei) de ultima hora tive que aumentar para um maior. E para piorar as coisas, eu estava realmente sozinha na parte de clássico, pois a professora que me ajudava com algumas turmas ( era do Rio e nunca tinha visto nossos espetáculos ) ficou com medo de se expor, achava que seria uma apresentaçãozinha de escola do interior, e desistiu quando começaram os ensaios. Aí foi difícil! Mamãe até achava que eu não devia continuar, mas eu sou teimosa e quis mostrar a esta professora que poderia fazer sem ela.
E fiz! Ela e a mãe, vieram me cumprimentar no final da primeira parte, que era de ballet, ficaram emocionadas, só tinham elogios, e arrependimento.
O espetáculo se chamou “Contando Estórias”( naquele tempo, na língua portuguesa, se escrevia história para a história geral que se aprende nas escolas, e estória para as de Fada, infantis, etc...)
A primeira parte foi a história da Bela Adormecida, como não tínhamos bailarinos, quem fez o príncipe e a bruxa, foi a Jaqueline Zanella que me ajudava com algumas turmas, e na segunda parte, um Divertissement, intercalando números de ballet e Jazz ( que na época era moda ), as professoras eram a Juliana Santiago e a Andréa Bergalo. Introduzi também curso de teatro na academia, mas não deu certo, mais tarde tentei de novo, mas também não deu.
Eu quase morria a cada ensaio geral, mamãe me fazia muita falta!

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 11

Em 1982, nasceram meus primeiros netos, um menino, o Sunshine, em setembro e uma menina, a Gabriela, em dezembro, e eu queria poder curtir um pouco a sensação de ser avó, então resolvi parar com a escola.
Mas foi uma reação tão grande contra, as mães fizeram um discurso pedindo que eu pensasse melhor, enfim, até meus filhos (eu tenho seis homens) pediram que eu não fechasse a escola. Continuei! Não dá de curtir os netos, quem sabe os bisnetos?
No ano seguinte, 1984, resolvi fazer nova apresentação, ( até aí eram feitas de dois em dois anos). Fiz o “Viva o Circo!”- foi tão bonita que eu mesma não acreditava.
Claro que tive a ajuda dos professores, já tinha mais professoras de clássico, a Ana Cristina Maiguè, Mônica e Catharina Coimbra ( filhas da Bila DÁvila Coimbra,uma grande mestra de ballet) e de um grande professor, amigo, Mário de Pinna, que dava aulas de ginástica e Jazz. Este professor fez história. Era bonito ( porém gay- que desperdício! ), algumas alunas eram completamente apaixonadas por ele. Foi até engraçado!
Meu marido sempre me auxiliou muito, e neste ano, fizemos o cenário parecendo um circo, com a lona de plástico vermelho, amarelo e azulão, e um picadeiro, tudo feito em casa.
Lembro-me que no dia do ensaio geral, estávamos armando o cenário, (as tiras enormes de plástico, porquê o teatro é muito alto) os canos de água de 32 pvc, em círculo, pendurados, um menor no alto e um círculo bem maior mais abaixo, onde prendíamos as tiras de plástico.
O círculo maior não ficava direito, sempre se retorcia. Os professores que estavam nos ajudando já estavam ficando desanimados, sentados no meio do palco sem saber o que fazer. Aí meu marido teve a idéia que deu certo! Arrumamos tudo, e o espetáculo foi um grande sucesso!
Todos adoraram, foi diferente. Era um circo, com os montadores ( Jazz), o apresentador,( o Mário),estava ótimo, parecia mesmo do circo e junto com a Jaqueline Zanella que fazia o Palhaço, foram excelentes! Cachorrinhos amestrados, leõezinhos e a domadora, pôneis, equilibristas, trapezistas, palhaços e tudo o mais.
Porém no ensaio geral, foi um horror, nada dava certo! Foi tão terrível! Meu marido me criticou tanto! Dizia que o espetáculo ia ser um fracasso total!
Para piorar as coisas, a costureira não tinha acabado algumas fantasias para o ensaio geral ( eu sempre fazia o ensaio geral já com fantasias) Aquela noite foi infernal para mim. Mas mamãe sempre falava que quando o ensaio geral é ruim, o espetáculo sai bom. E assim foi! A costureira chegou a tempo, e deu tudo certo!
Foi realmente bonito! Lindo! Diferente!

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 12

Em 1985, já estava com um bom staf de ótimos professores, além dos que já estavam no ano anterior, contratei mais a professora de Jazz , Jussara Terrats, a melhor na época, mas ficou conosco só dois anos ( depois foi para os USA, e nunca mais soube dela), o Mário tinha ido fazer uma tournée num transatlântico e nos deixou ( para sempre, soube que morreu de AIDS
alguns anos depois), para Ballet Moderno, a Sandra Meyer, e para os babys, a Patrícia Soares e a Ivana Bonomini.
Porém uma tragédia tinha acontecido no começo deste ano. Nossa querida aluna e uma das melhores, tinha falecido num acidente. Foi um choque muito grande, ela estava de partida para estudar ballet no teatro Guaira de Curitiba, foi uma perda irreparável, muito sofrida para todas nós.
Por sorte neste ano compramos uma filmadora e o espetáculo foi filmado, ( foi o primeiro, daí por diante filmamos todos) então temos a imagem dela, dançando, para sempre.
Nossa apresentação, neste ano de 1985, foi uma homenagem à ela, querida Fernanda Faria Moura. Se chamou “Corearte “.
Desde 1984, vínhamos tendo um número cada vez maior de alunas, sentimos necessidade de aumentar o espaço físico da escola, então compramos o terreno que ficava atrás de nossa casa, de frente para a avenida Rio Branco, e construímos um prédio de quatro andares, com salas de assoalho feito especiais para dança. Como trabalhei! Meu marido e eu é que fizemos as molduras dos espelhos, as divisórias dos banheiros. Até a confecção das barras teve a minha ajuda, pois a madeira era quadrada, para o carpinteiro transformá-la em roliça, eu segurava e ficava girando a madeira, para ficar por igual ( ele passava a enchó e depois a lixadeira elétrica ). Lembro que ficávamos algumas noites até de madrugada trabalhando com entusiasmo!
A necessidade de mais espaço era tanta, que mesmo em construção, com madeiras tapando as janelas, tendo que passar por entulhos de construção,..... mesmo assim tínhamos bastante alunas, ninguém se importava, estavam todos esperando o término da obra. Os ensaios para a apresentação foram nestas condições. Inauguramos o prédio quase no final de 87.
No ano de 1987, apresentamos o espetáculo “Dançar é Viver”,. Fizemos como um musical americano, com uma grande e larga escadaria no centro do palco, para onde convergiam duas passarelas que vinham desde as coxias, uma de cada lado. Passei quatro meses enrrugando papel celofane furta-cor e colando em folhas de papel craft que antes pintei de branco, para colar nas passarelas e nos espelhos da escadaria, para dar a sensação de vidro. Enquanto eu estava fazendo o trabalho, em cima de uma mesa, a luz incidia de cima nas tiras já prontas ( eu trabalhava a noite) ficava lindo, mas no palco, as tiras ficavam na vertical, a luz vinha de cima, não deu o efeito que eu esperava. E deu tanto trabalho!
Teve um episódio engraçado nesta apresentação, eu tinha feito um cartaz bem grande, com letras pintadas e depois colado purpurina para brilhar, com os dizeres “ DANÇAR É VIVER” e outro com “FIM” para fazer como no final dos filmes.
O contra regras deveria descer o cartaz com o nome do espetáculo, na hora que as meninas da primeira dança, um sapateado, vestidas com fraque e cartola corressem para a escadaria e fizessem um gesto tirando a cartola como que cumprimentando. Ele se enganou e desceu o “FIM’
Foi cômico, ligeiro ele se deu conta e arrumou a situação, no final ele não errou. Foi muito bonita! Foi um ano de muitas alunas, acho que mais de quinhentas!
Até aí continuava com a Ana Cristina, a Ivana, minha nora Maria Lucia, entrou também para o staff da academia nesta época, dando aulas de baby-class. Contratei novo professor de Jazz, o José Luiz, era de Santos, por sinal muito bom professor. Foi a época que sobressaímos no Jazz, ganhamos alguns prêmios. Pena que ele ficou tão pouco na academia, voltou para Santos em 1988. Neste ano começamos o curso de Manequim, com a Pata, que durou muitos anos de sucesso.

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 13

Fizemos Desfiles Shows incríveis, muito lindos, todos enchiam o salão do Clube 12 de Agosto.
Ela e eu trabalhávamos à beça, mas dava muita satisfação. Chegamos a ganhar o prêmio “Plumas e Paetês” em 91 e 92. Os defiles eram realmente muito bonitos, nós fazíamos um Show mesmo!
O próximo festival, foi em 1989, meu filho caçula tinha se acidentado de moto e ficamos vários dias no hospital, eu não podia perder tempo, então lá mesmo fiz muitos adereços para as fantasias, bordei muito também.
Apresentamos na primeira parte, uma história infantil “Alice no Mundo Encantado”. Neste ano mandei fazer um cenário ( por um primo de meu marido, o Plínio Verani) que ficou muito bonito, era uma floresta com arvores de carinhas engraçadas, e foram feitas muitas alegorias e máscaras do mesmo material de pranchas de surf. Gastamos uma fortuna, desta vez tive prejuízo, mas valeu a pena! Ficou maravilhoso! Fiquei escutando “bronca” de meu marido por anos, mas não me arrependo!
Esta parte que era a parte das crianças, fizemos com músicas lindas de um disco americano, e eu fiz as letras das músicas, fizemos um Play back com as meninas do coral do Clube 6 de Janeiro, (do professor Ildo Serafim) elas cantavam e nossas alunas “pareciam”cantar.
A fantasia dos Papagaios ficou tão interessante, e as meninas eram tão engraçadinhas que fez muito sucesso, quando entravam no palco era uma gargalhada geral!
Neste espetáculo eu participei também como o Coelhão (com roupa bem larga, uma barriga enorme, uma cabeça de coelho linda ) me diverti muito! Foi bom para me desestressar, pois tinha tido um desgosto este ano. Uma professora de clássico, me fez uma grande traição .
O pai de uma aluna adulta, ofereceu para a filha uma sala grande no centro da cidade para que ela abrisse uma escola de dança. Ela convidou minha professora, e esta me deixou.
Até aí tudo bem, a traição foi a maneira como fizeram. Nós, nesta época já tínhamos o computador e eu fazia o cadastro das alunas com nome, endereço, telefone etc.....
Este cadastro desapareceu, e mais tarde soube que elas telefonavam para nossas alunas convidando para entrarem na escola delas. Deus é pai! Há já alguns anos que a escola delas fechou, e a minha ainda está funcionando! Neste ano entrou para a academia a Bárbara Rey, como professora de clássico. Ela tinha sido aluna da Sandra Nolla.
Neste espetáculo tive o grande prazer de ver Gabriela, minha primeira neta já dançando, como “estrelinha”, foi emocionante!
Lembro-me que nesta época ainda era preciso que eu fizesse um pedido de liberação das alunas menores , ( todos os anos era feito ) por ofício, ao juizado de menores, com o nome e data de nascimento de todas, era incômodo, mas necessário. Então fiz o ofício, e recebi uma resposta do juiz, que guardo até hoje, com um elogio tão grande, dizendo que pela idoneidade e trabalho tão belo feito por nós, daquela data em diante não precisaríamos pedir mais autorização. Foi gratificante e ao mesmo tempo aliviante, pois eu não precisaria fazer aquele trabalho maçante de bater na máquina ( não havia o computador ainda ) todos aqueles nomes e datas ( tínhamos centenas de alunas menores ).

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 14

No ano de 1990, contratei um casal de professores muito bons, do Rio, Alba e Telmo Gomes, também ficaram muito pouco tempo na escola.
Em 1991, apresentamos “Dance is Work”, que é bem sugestivo pois dança é trabalho.
Neste ano tínhamos algumas alunas bem adiantadas, havia alguns anos que eu vinha trazendo professores de fora, Jair Moraes, Hugo Delavalle e outros, para dar cursos para as alunas e isto melhorou muito a técnica e aumentou o nível tanto das alunas como das professoras.
Quando podia também patrocinei cursos no Rio e São Paulo para que minhas professoras se atualizassem, isto foi muito bom!
Esta apresentação foi diferente, pois na época tínhamos já o curso de Manequim e queríamos mostrar. Resolvemos então fazer um desfile no palco.
Foi bonito, mas não foi uma boa idéia.
Para apresentarmos o desfile, tivemos de dividir o espetáculo em três partes, e cada parte era demorada, tínhamos muitas alunas. Na primeira parte fizemos um “Divertissement”com números de ballet clássico, Com a melhora na técnica das alunas, pudemos apresentar números clássicos de alto nível. A segunda parte com números de Jazz, já tínhamos alunas em vários níveis inclusive Adiantado, nosso professor de Jazz era ótimo, os números foram muito bonitos, e tínhamos ainda, sapateado, com a professora Bia Mattar e patinação com a Márcia Bernardi.
Até patinação nós tínhamos! Mas o espetáculo se alongou muito, até chegar a hora do desfile, já era meia noite! Terrível, nem eu estava aguentando. Terminou à uma hora da manhã !
Ainda bem que foi só o primeiro dia, no segundo já não teve o desfile, aí ficou melhor. Mas foi muito bonito.
Neste ano também formamos um Grupo Experimental Juvenil de Dança, com algumas alunas, para podermos nos apresentar mais, pois escolas só tinham a permissão de usarem o teatro nos finais de ano para seus festivais. O grupo se chamou Gayia, e nos apresentamos algumas vezes nos anos seguintes, e ganhamos alguns prêmios.
Todos os anos acontecem coisas boas e coisas ruins, neste ano fui traída mais uma vez, por uma boa professora que eu gostava demais.
Estava eu no Rio de Janeiro comprando os uniformes para minha academia, quando a dona da fábrica me falou que a dita professora e o marido, estavam mandando fazer uniformes, já com o nome da escola deles, e eu nem sabia que ela iria me deixar e abrir outra escola.
Mas novamente aconteceu, ela não durou muito tempo, e a minha ainda está aí.

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 15

Na apresentação de 1993, fiz “Papai Noel e sua Fábrica Maravilhosa”. Foi lindo!
Mandei fazer um cenário que era uma fábrica de brinquedos como se fosse dentro de uma rocha, Me lembro que meu marido e eu fizemos uma grande engrenagem ( tudo para o palco tem que ser grande senão não aparece) cheia de luzes que piscavam em seqüência dando a impressão de que a engrenagem estava em movimento. Nunca vou esquecer o trabalho que nos deu e as discussões que tivemos. Eu o ajudava, não entendia nada de eletricidade mas queria dar os meus palpites.....que as vezes dava certo.
Ficou linda!
Quando a cortina se abriu, a engrenagem trabalhando, ouvi um OH ! na platéia. Ficou realmente bonito todo o conjunto. Pena que tivemos que desmontar toda a engrenagem depois do espetáculo, pois não tínhamos como guardar uma coisa tão grande.
Neste ano fizemos a apresentação como um musical. Novamente, fiz as letras das musicas, e o play back foi feito pelo coral do Clube 6 de Janeiro. Eu fui o Papai Noel, cheia de espuma para ficar gordo e barrigudo, Tinha também os sete anões ( mandei fazer umas máscaras de espuma que ficaram belíssimas, grandes, iam até a cintura das alunas, a roupa muito colorida, o cinto passava pelos cotovelos, com os braços dobrados, então a impressão que dava era de cabeça grande e corpo pequeno. Ficou muito bom! Cada anão era o responsável por um setor de brinquedos e apresentava para o Papai Noel. Assim pudemos apresentar todas as modalidades de dança que tínhamos na escola. Nesta época entraram para o staf da academia o Alejandro Ahmed e a Malu Rabelo.
No final algumas alunas vestidas de “coroinhas” com uma túnica vermelha em cima de outra branca e com velas ( de pilha) nas mãos, vinham dos dois lados do palco, por cima de uma passarela e desciam por uma escadaria onde tinha um pinheiro de Natal iluminado, cantando um “poupouri”de músicas natalinas. Foi o máximo! Até eu chorei!
Foi uma das mais bonitas apresentações que fiz durante a faze amadora, sim, porque no ano seguinte, contratei um professor argentino, Oscar Recaldé, ele começou uma faze mais profissional, à medida que podíamos, é claro!
Em 1995, festejava-se os 100 anos do cinema, então fizemos a nossa apresentação em homenagem aos “Cem anos do Cinema” e à Walt Disney, mas na segunda parte do programa, o professor argentino, montou uma “Suíte”do ballet “O quebra-Nozes”. Eu não esperava que nossas alunas, nem mesmo as mais adiantadas, tivessem uma performance tão boa.
Foi emocionante! Primeiro ballet de repertório que apresentávamos! Mesmo sendo só uma Suíte. Chorei de emoção!
Mamãe se emocionou muito também. Em todos os espetáculos durante estes anos, ela ia nos bastidores, me dava um beijo e me incentivava, tinha muito orgulho de mim como seguidora de seu trabalho.E eu, muito orgulho dela!

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 16

O ano de 1996 foi um ano bastante proveitoso para a escola, o grupo se apresentou em várias ocasiões, além do espetáculo anual da escola. Este ano o cenário foi simples, mas ficou bonito. Idéia do nosso professor de Jazz, o Alejandro.
Eram caixas de todos os tamanhos, inclusive uma de geladeira, deu trabalho para conseguir. Lembro-me que fui em algumas lojas pedindo caixas vazias e me disseram que no final do expediente sempre tinha, voltei as 18 horas. Um desses catadores de papelão já tinha pegado minhas caixas, quase peguei ele no tapa......( brincadeirinha). Tive de falar com muito jeito para que ele me desse as caixas, que pintei, algumas em azul, outras em amarelo e outras em vermelho, e penduramos em três fios de nylon que vinham do alto e umas tiras de plástico também nas mesmas cores. Ficou barato e deu um efeito bonito! O espetáculo foi diferente também na maneira de se finalizar cada número, enquanto umas meninas iam saindo do palco, as outras já iam entrando, não ficava intervalo nenhum entre os números, se mixava as músicas. Ficou bem interessante! Neste ano entrou para nossa academia a professora de ballet Marta de Moura, e nos deixou, o Alejandro, pois o seu Grupo de Dança, o Cena 11 começou a fazer sucesso no Brasil e até no exterior. O sucesso foi merecido!
1997, neste ano apresentamos um ballet completo, o sonho da minha vida, a “A Bela Adormecida”, e pela primeira vez fizemos um cenário realmente maravilhoso. Contratei um ótimo cenógrafo, sr Chiarello.. Ficou tão lindo, que quando a cortina se abriu, senti que a platéia delirou! Foi emocionante!
Era um sonho meu, poder apresentar um ballet de repertório completo. No ano de 95 apresentamos, mas foi uma Suíte, quer dizer, uma pequena parte de um ballet. Agora não, era o ballet inteiro, como as grandes companhias. Foi uma grande pretensão, mas com muito ensaio e dedicação montamos o espetáculo. E foi maravilhoso!
As meninas foram ótimas, dançaram muito bem. Contratei um bailarino de Porto Alegre, para fazer o papel do príncipe, pois aqui não temos bailarinos clássicos, não com a técnica que seria preciso.
Desde 95 que começamos a apresentar os espetáculos anualmente, sentimos que as alunas se mostravam motivadas com as apresentações, e os pais que gastavam, não reclamavam, ao contrário, incentivavam.

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 17

No ano de 1998, voltamos a apresentar uma historinha, com a parte infantil do ballet clássico. Dividimos o espetáculo em três partes: a primeira, a historinha “A Floresta Encantada ”, neste eu já tinha duas netas dançando no ballet clássico ( a Thassiane e a Ana Sophia) e uma no jazz, ( a Bruna), tripla emoção!
Na segunda parte, demonstrações de Jazz, e por último , a Suíte de “La Bayadère”, que ficou maravilhosa. De novo o mesmo cenógrafo fez o cenário, que ficou belíssimo!
Adorava assistir as aulas do Oscar, as alunas estavam cada vez melhores, com mais técnica. Tanto que a Pró Música nos fez o convite para dançarmos em julho daquele ano, acompanhando a grande bailarina Ana Botafogo no CIC em comemoração dos 25 anos daquela entidade. Deste episódio tenho uma recordação interessante.
Ana Botafogo e o seu parter o grande bailarino Paulo Rodrigues, ficaram hospedados no Hotel Maria do Mar, e ensaiavam na nossa academia. Eu, me ofereci para busca-los e leva-los, ( por gentileza, achei que iriam dizer que já tinham quem os transportasse.... ), e eles aceitaram! Nossa! Que responsabilidade para mim! Andava para lá e para cá com eles dirigindo o meu corsinha.. Mas os dois foram de uma simpatia e simplicidade tão maravilhosa, que me senti como se já os conhecesse a tempos. Conversamos muito . As alunas maiores dançaram com ela, o que para as pequenas foi um incentivo! Eles deram muitos autógrafos para nossas alunas, elas adoraram!
Neste ano também contratei, pelo “Projeto Olenewa”, um casal de professores russos para darem um curso de ballet clássico para nossas alunas, foi muito importante para o aprendizado delas.
Nossa aluna Maria Lúcia Segalin que já tinha ganho uma bolsa de estudos em Viena, num concurso que fez em Brasília no ano anterior, ganhou também o “Concours Internatinal de Danse Classique de Biarritz”e foi contratada pelo “Jeune Ballet de France”. Ficou morando na Europa, onde está até hoje. Que orgulho para nós!

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 18

A partir de 1994, começamos a nos apresentar em festivais e a ganhar prêmios, muitos prêmios.
Em 1999, pensamos em montar o ballet “Don Quixote”.”então, minha coordenadora artística, Bárbara, fez um “concurso“ para ver quem se habilitava para os principais papéis femininos.
Mostramos o vídeo com o “American Ballet”, elas estudavam, e no dia, se apresentaram para a seleção. Foi muito emocionante, porquê, se apresentaram para a Espanhola, para as amigas, mas uma única se apresentou para “Quitéria”( é o papel principal e bem difícil). Dançou tão bem, que todas as alunas e professoras ficamos extasiadas, palmas,palmas, palmas....Ela foi uma verdadeira Quitéria, com expressões e gestos.
Este foi para mim um dos mais bonitos espetáculos que já fizemos. Este ballet é muito bonito, alegre, divertido, e precisa de muito teatro.Conseguimos bons atores, para fazer o papel de Dom Quixote, Sancho Pança, o pai de Quitéria e o Pretendente, todos teriam de ser cômicos mas sem exagero, e foram! Foram maravilhosos!
As meninas mais adiantadas, dançaram muito bem, com muita técnica. No começo do ano seguinte, nove de nossas alunas se inscreveram para a audição que a Escola do Teatro
Bolshoi em Joinville fez para a seleção de alunos. Todas as nove passaram, entre centenas do Brasil e até do exterior. O primeiro lugar foi de nossa aluna Tarcila Leite que dançou o papel principal de Quitéria. Mereceu! . E o importante é que era uma aluna que estava conosco desde o baby, não teve interferências de fora, era “cria nossa”
Foi muito bom,, mas ao mesmo tempo muito triste para nós, perdemos de uma vez as melhores alunas. Ficamos desfalcadas. Neste ano também, houve uma mudança na academia. Por absoluta necessidade, tivemos de alugar o prédio da avenida Rio Branco e ficamos só na parte de trás, que foi o nosso recomeço. Reformamos, aumentamos, e ficou muito bom! Já não tínhamos aquela quantidade de alunas, a política econômica deste nosso Brasil não estava boa, o poder aquisitivo das pessoas está diminuindo cada vez mais, então a parte da Feliciano Nunes Pires é o suficiente.
No ano seguinte, 2000, já não tínhamos o professor argentino, tinha ido para São Paulo, perdemos as alunas, e eu perdi minha mãe. Foi terrível. Logo quando a escola completava 50 anos! Mas o show deve continuar....... e continuou.
Montamos o ballet “Coppélia”. Uma das professoras, a Bárbara, que sempre me ajudou na direção artística, dançou como Swanilda ( o papel principal ) , outra professora, Kátia Couto, dançou como Coppélia ( a boneca), nosso professor de Jazz e aluno de ballet clássico Flávio Vargas, fez o papel principal masculino. Assim fizemos o espetáculo sem as alunas que tinham ido para o Bolshoi.
O cenário, como sempre ficou muito bonito. Os atores foram os mesmos do Dom Quixote, e foram ótimos! Foi um ballet bem alegre.
Depois dos espetáculos, eu e as professoras, sempre recebemos flores, é emocionante, mas neste ano me emocionei mais da conta quando vi entrando no palco duas netas me trazendo flores. Uma já dançava a alguns anos, a Thassiane, mas a outra, Victória, era um pinguinho de gente, tinha dois aninhos, e entrou vestida de aluna, com colant rosa, sapatilha,( fizeram uma especial para ela pois nem tinha deste tamanho) cabelinho em coque com redinha, o bouquê quase era maior que ela, ( dá de imaginar a cena) .....o público se divertiu.
Foi demais! Chorei muito! De alegria! No ano seguinte, ela começou no baby. Não costumamos ter alunas tão pequenas, mas como ela estava se mostrando tão interessada, só queria escutar músicas de ballet e “dançava”, achei que não podia perder a oportunidade. Ela até agora está estudando, vamos ver se o entusiasmo continua....

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 19

Em 2001, apresentamos “Revelações 2001”, como o nome sugere, para apresentar algumas revelações que estavam surgindo naquele ano. Foi mais simples que o ano anterior, mas foi muito bonito. Como último número apresentamos uma Dança Flamenca que tínhamos implantado um ano antes na escola. Foi aplaudida de pé!
2002 – “Uma Noite de Natal” na realidade era o ballet “O Quebra-Nozes”mas como nossas aluninhas de babys e pré-ballet iam tomar parte, achamos que seríamos criticadas, não queríamos comprometer o ballet que é muito lindo, e bem sugestivo para a época de Natal, época que sempre foram feitas nossas apresentações.
E foi muito lindo! O cenário, o interior de uma casa, com uma árvore de Natal com uns dois metros e meio de altura, que se ilumina e cresce até ficar com oito metros. Que trabalho para fazer! Ficamos, ( meu marido, eu e meu filho), vários dias colocando fios e mais fios de lâmpadas na árvore pintada, que ficava esticada no chão de nosso salão na parte de baixo da minha casa. Fiz também muitos anjinhos de asas douradas para decorar a árvore, que ia aumentando ao mesmo tempo que a janela da casa aumentava também, tudo, para dar a impressão que as pessoas ficaram pequenas e nesta parte tem a luta dos ratos com os soldadinhos de chumbo. É a parte que mais gosto, é cômica, e as alunas fizeram o papel direitinho..
O público vibrou, se divertiu também!
A Dança dos Flocos de Neve foi lindíssima, as alunas pareciam grandes bailarinas. A professora Malú fez elas ensaiarem pra valer! Mas compensou! Foi um número maravilhoso!
O efeito que deu no palco foi sensacional! Foi um dos melhores espetáculos! Cada ano eu acho que é o melhor......
Há uns dois anos que temos contratado sempre o mesmo bailarino, do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o Ronaldo Martins, porquê ele, além de ser muito bom bailarino é muito boa pessoa, e isto não é muito comum no mundo da dança. Quando ele vem, dá cursos de atualização para as alunas e professoras, é muito bom!
A apresentação “O Quebra- Nozes” foi tão linda que resolvemos reapresentar no ano seguinte, 2003, pela primeira vez fizemos isso, e foi muito bom, pois a situação financeira de todos começou a ficar perigosa, tínhamos,( a academia e os alunos) , que fazer economia. E foi mais linda ainda que no ano anterior!
As alunas tiveram mais tempo de ensaios, e deu para consertar os erros que fizemos na primeira apresentação, e é um Ballet que é apresentado todos os finais de ano nas grandes escolas.
Neste ano fiz sociedade com as três professoras de ballet que já trabalham comigo há alguns anos, Malú, Bárbara e Ivana, pois me sentia muito cansada, porém com vontade de continuar.
Em 2004, apresentamos o ballet completo “La Bayadére”. Riquíssimo. As fantasias, todas bordadas, ricas, coloridas.
O ballet se passa na Índia, Com palácio, templo, sacerdotisas, princesa. Foi maravilhoso!
Para mim, o mais bonito já apresentado por nossa escola. As alunas pareciam profissionais, tão bem que dançaram! Foi realmente emocionante!