domingo, 3 de agosto de 2008

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 3


Mamãe contava que passaram fome, no princípio, mas já estavam acostumadas.....
O importante é que estavam juntos novamente! Não sei como vovó soube que uma professora russa dava aulas de ballet no Teatro Municipal do Rio, era Maria Olenewa. Falou com ela e conseguiu que mamãe entrasse para a escola.
Maria Olenewa foi uma grande amiga de mamãe, se correspondia com ela até sua morte
( se suicidou, atirando-se do edifício que morava, quando soube que estava com câncer)
Mamãe, apesar da dificuldade de locomoção para poder fazer as aulas ( morava em Duque de Caxias, no subúrbio) , tinha de pegar 2 trens, e andar a pé até o centro do Rio onde fica o Teatro Municipal, fez o curso na maior alegria.
Algumas colegas, sabendo da dificuldade que a família passava, ajudaram muito à ela, dando roupas, com certeza dando sapatilhas, e roupas de ballet.
Uma dessas amigas eu conheci, quando já estudava ballet com mamãe, ela me levou ao Teatro Municipal para assistir uma aula cuja professora era essa amiga.
Depois de algum tempo, mamãe entrou para o Corpo de Baile e aí começou a ganhar cachê, o que ajudou muito à família.
Foi convidada para ser solista, mas bem na época ela já namorava meu pai e estava perdidamente apaixonada ( ela sempre foi, até papai falecer em 1982).
Ele pediu para ela casar com ele e morar e Florianópolis, então desistiu de ser solista, de ter uma carreira talvez brilhante, quem sabe! Mas o amor venceu!
Naquele tempo, aqui no Brasil não havia o “divórcio”, e papai era “desquitado” de sua primeira esposa ( Corina) , em Bagé, e eles não puderam se casar legalmente.
Só quando a ex- esposa faleceu ( na época do nascimento de meu quinto filho) é que eles puderam se casar realmente. Mas o amor deles era tão grande, que eu e meu irmão sempre os consideramos realmente casados.
Voltando ao Ballet..... então mamãe veio para Florianópolis, em 1937, num hidroavião,
( ela contava que no mesmo avião vinha Borges de Medeiros, o grande estadista gaúcho ) e o avião parava no trapiche da pracinha do Katcipes ( praça da Esteves Junior).
Mamãe estava na maior felicidade, ela tinha 17 anos!
Passaram a “lua de mel” no antigo hotel de Caldas da Imperatriz, devo ter sido gerada aí, pois sempre gostei muito deste lugar.