domingo, 3 de agosto de 2008

Duas vidas dedicadas ao Ballet - parte 5



Alunas ao final da apresentação 1952



Ao fim do primeiro ano de aulas, 1952, fez o primeiro festival de final de ano, no TAC, Teatro Álvaro de Carvalho, na época era o único. Lembro-me que o primeiro número da segunda parte foi muito bonito, se chamava “Gregas”. Com a música Clair de Lune de Debussi, com uma iluminação azulada, um cenário com quatro colunas que papai mandou fazer, e nós ( eu dancei ) com túnicas gregas, e umas guirlandas de flores que colocávamos nas colunas fazendo um desenho final muito bonito.
Essas guirlandas foram tão bem feitas, ( por uma velhinha que morava em frente onde é o Clube 12 hoje ) que até hoje uso para enfeitar minha casa no Natal, são quase tão velhas quanto eu. As colunas gregas também sobreviveram alguns bons anos, ( serviram de cenário mais umas duas vezes depois que reiniciamos a escola).
Papai mandou os peões da Telefônica ( que era de meu avô) ajudarem mamãe à tirar o lixo do teatro, e tiraram 2 caminhões! Naquela época o Teatro era usado como cinema.
Mamãe decorou todo o teatro, ficou bonito! E dançamos, ao som da orquestra sinfônica
regida pelo saudoso maestro Peluso. Que chique! Era com orquestra sinfônica!
Que trabalho! Nos ensaios, ou faltava aluna ou faltava músico. Para unir tudo........
Mas era muito bom! Só tinha um problema sério, seríssimo, não tínhamos um local adequado para as aulas. Mamãe dava as aulas na sala que seria do nosso apartamento, que vovô tinha mandado construir, em cima da CTC ( Cia Telefônica Catarinense, na praça 15 de novembro ), mas papai não quis se mudar para lá, então mamãe aproveitou o apartamento para dar as aulas. Era pequeno, mas dava. Só que ela tinha de dar muito mais aulas por dia para atender todas as alunas, eram poucas por turma.
Lembro-me que uma vez ela chegou a ficar completamente sem voz, mas mesmo assim deu as aulas. Nosso uniforme era de “piquê” ( um tecido feito de algodão) rosa ou azul claro, dependendo do nível, mais tarde quando já tinham alunas mais adiantadas o uniforme era do mesmo tecido porém preto. Eram de alça, e saia godê curtinha, e tinha uma bombachinha curta como calcinha, separada. As sapatilhas de ponta para as aulas, eram de pelica preta, para dançar nas apresentações, tínhamos que encomendar as sapatilhas cor de rosa de cetim.
Meu pai fazia os programas e mandava imprimir. Sempre gostei de ajuda-lo neste serviço.
Foi um evento muito comentado, um radialista, o Acy Cabral Teive, leu uma crônica muito bonita que escreveu para a Rádio Guarujá, o jornal A Gazeta publicou uma página inteira ( impossível hoje ) com fotos e reportagem de Sálvio de Oliveira, tecendo os maiores elogios.
Foi realmente muito bonita para a época.
Na segunda apresentação, 1953, o teatro estava sendo reformado, pois tinha sido transformado por alguns anos, em cinema, Cine Odeon, e estava realmente precisando de uma grande reforma, então tivemos de fazer a apresentação na FAC, Federação Atlética Catarinense, hoje estádio Rosendo Lima, na Av. Hercílio Luz.
O presidente da FAC era o sr Osmar Cunha, que muito gentilmente cedeu o local, ( sua filha também era aluna de mamãe). O governador, sr Irineu Bornhausen, autorizou seu secretário de obras, o sr Otto Entres à construir um lindo palco dentro do estádio, que na época não era coberto. Aconteceu que o tempo ficou ruim, caiu uma tempestade de verão, durante uns três dias choveu muito, tivemos que adiar até que o tempo melhorasse e o palco secasse.
Não me lembro quantos dias, acho que uma semana. Que contratempo!
Imagine! Alunas, orquestra, todos esperando, sem saber quando a situação melhoraria.
Mas tudo deu certo! Mamãe fez a apresentação, e foi um sucesso! Linda! A noite estava maravilhosa, com lua, estrelas e tudo que tem direito!
Minha mãe sempre começava o espetáculo com “Uma Aula”, um port de bras, com todas as alunas, e com o noturno de Chopin, era emocionante, muito delicado. Lembro-me que as mães já começavam a chorar desde aí, no começo! .
O maestro Emmanuel Peluso, era um gentlemam, muito paciente e delicado com todos, eu gostava muito dele, fiquei amiga, e anos mais tarde, já casada, encontrava com ele na feira e conversávamos muito, lembrando os bons tempos.